Algumas questões sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH
Cada vez mais as crianças que chegam no consultório de psicologia são encaminhadas com a queixa de serem hiperativas e desatentas. Tornou-se frequente a indagação de pais, familiares e escola sobre o comportamento que seus filhos e alunos apresentam: o que que esse menino tem¿ Ele não para e por ai vai...!
Numa leitura rápida do panorama atual, entendo que há posições divergentes sobre a origem do TDAH, suas causas e tratamentos. Vejo de um lado estudiosos e profissionais que compreendem o TDAH, enquanto um distúrbio neurobiológico, tal como a Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA), que define o TDAH em seu site como um transtorno neurobiológico de causas genéticas que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Por outro lado, há estudiosos que questionam a real existência desse transtorno e uma possível construção social do mesmo. Em entrevista à revista Carta Capital a Professora Maria Aparecida Affonso Moysés, da Unicamp, demonstra questionar a existência de “uma doença neurológica que só altera comportamento e aprendizagem”.
Há diversos estudos e artigos científicos disponíveis que discutem a fundo a temática de hoje e irei disponibilizar alguns links para consultar No entanto, não temos aqui como nos estendermos devido o espaç. Por isso, recortei alguns trechos dos artigos abaixo disponíveis para retratar questões fundamentais quando falamos do Transtorno de déficit e atenção.
- Leite e Neves (2013) entendem que o “TDAH deve ser compreendido como construções que derivam das interações sociais estabelecidas pelo sujeito com o mundo social, sendo, portanto, um fenômeno interpsicológico”. Dessa forma, é necessário refletir sobre a ocorrência do TDAH e demonstrar que ela não está deslocada do contexto social em que se apresenta a fim de avançar e superar justificativas, discursos e práticas que reduzem a análise desse fenômeno a um modelo organicista (Collares & Moysés, 2010; Eidt & Tuleski, 2010; Landskron & Sperb, 2008; Leite & Tuleski, 2011).
- Como destaca Meira (2007), tanto a descrição do transtorno quanto o tipo de sintomas que sustentam o seu diagnóstico revelam a falta de uma análise crítica sobre as relações entre os fenômenos que ocorrem na educação e o contexto histórico-social que a determina. Sem essa reflexão o resultado é inevitável: muitas crianças absolutamente normais podem iniciar uma “carreira” de portadores de dificuldades de aprendizagem. Nessa
- De acordo com Ashbar e Meira (2014): “A produção mundial de metilfenidato, a droga mais utilizada para o tratamento de indivíduos diagnosticados como portadores de TDAH, cresceu mais de 800% entre 1990 e 2003 (LEHER, 2013, p. 276). Esse crescimento vem sendo detectado em vários países, entre eles EUA, Holanda, Argentina e Brasil (BOARINI; BORGES, 2009). No Brasil, a situação pode ser considerada alarmante já que as vendas cresceram 1616% entre 2000 e 2008 (MOYSÉS; COLLARES, 2011, p. 96), o que nos coloca como segundo maior consumidor da droga no mundo” (p.98).
- Moysés (2011) aponta que vários trabalhos mostram que existe um risco de dependência química muito grande, além de uma dependência psíquica, porque a pessoa se sente mais ativa mesmo. E tem várias pesquisas mostrando que, quando a criança começa a tomar aos 4 anos e retiram o remédio aos 18, existe uma tendência muito grande de drogadição por substância mais pesadas. Se a criança está usando um estimulante desde os 5, 6 anos, ela vai buscar outra droga quando interrompe este uso. No mundo todo, clínicas relatam que metade dos adolescentes conta que começaram a drogadição e a mantém com ritalina. E a fala desses adolescentes é que eles começaram a usar porque é barato, acessível, fácil de comprar, embora tenha receita controlada. Segundo eles, os médicos diziam que era seguro. Como dizem até hoje. Mas não é uma droga segura.
Trouxe para esse espaço algumas provocações e espero que juntos a gente consiga refletir e construir uma nova formar de entender nossas crianças e adolescentes, bem como interagir com eles.
Aproveitem as leituras!!
Um grande abraço.
- https://www.cartacapital.com.br/educacao/carta-fundamental-arquivo/a-droga-da-obediencia
- https://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/05/deficit-de-atencao-nas-criancas-francesas.html
- https://br.rfi.fr/geral/20150304-franca-reconhece-disturbio-de-deficit-de-atencao-e-hiperatividade
- https://revista.fct.unesp.br/index.php/Nuances/article/viewFile/2735/2520
- https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-85572013000100020